A cada 15 dias tenho aula em minha pós graduação. Como sempre saio correndo do trabalho para chegar na hora, passo em uma lancheria no caminho para comer algo. Normalmente chego, peço um misto quente com ovo e um café com leite e me alimento substancialmente.
Demorei a perceber, mas em todas as vezes que fui, tinha um senhor sentado em um canto. Esperando pacientemente, ele aguardava seu lanche, que se resumia a um prato de arroz. Sim, apenas um prato de arroz branco, bem soltinho.
Fiquei curioso e observei. Ele tinha uma sacola do lado, de onde tirava uma fatia de queijo, abria o arroz, jogava ela no meio, cobria com arroz e esperava por cerca de um minuto, enquanto o arroz quente derretia o queijo. Com um semblante de felicidade, ele se poe a comer. Achei curioso.
Após ver pela primeira vez o "modus operandi" do senhor, vi que em todas as vezes ele fazia o mesmo procedimento. Sempre no mesmo horário (o que eu chegava lá pra comer, pontualmente às 18h), sempre o mesmo prato de arroz, sempre aquela fatia de queijo de dentro da sacola. Após satisfeito, sempre pedia meio copo de água e tomava com um remédio que também estava dentro da sacola.
Sabe, para alguns isso deve ser estranho. Esse "velho esquisito" fica no canto, quieto, come sempre o mesmo prato, faz seu ritual, e vai embora. Quem será ele? Por quê gosta tanto de arroz com queijo?
Não importa. Quem sou eu para julgar, se todas as vezes que fui lá pedi um misto quente com ovo e um café com leite? Talvez aos olhos dele eu que seja um estranho por sempre pedir isso.
Nossos hábitos dizem muito sobre o que somos e como funcionamos. Gosto de meus hábitos, mesmo que nem todos sejam saudáveis. Esse senhor, mesmo que nunca tenha trocado uma palavra comigo, me mostrou que não podemos julgar as aparências, pois podemos ser semelhantes, mesmo que em níveis diferentes. Quem sabe ele me apelidou de "cara do misto quente com ovo".