Outro dia eu estava no trem, como em todos os dias úteis da semana, pensando na vida, no universo e tudo o mais. Olhei ao longe e vi um rosto familiar. O semblante me lembrava alguém, mas demorei uns minutos a perceber, era um antigo amigo de infância. Eu não o via desde, sei lá, os meus 8 ou 9 anos.
Sabe quando surge aquele momento projetor de cinema, e vários rolos de filmes ficam passando pela mente?
Ele era meu melhor amigo naquela época, mas acho que se mudou do bairro sei lá por quê, e acabei nunca mais falando com ele. Brincávamos quase todos os dias. Íamos no zoológico juntos, líamos gibis, e tínhamos os mesmos gostos por bonequinhos de super heróis.
Olhei pra ele um pouco, ele me olhou mas claramente não me reconheceu, então virei a cara pra não parecer um daqueles caras psicóticos que ficam encarando pessoas do nada. Devo estar muito diferente, ou de repente aquela amizade maravilhosa nem foi tanto pra ele a ponto de lembrar, mas é assim mesmo que a banda toca.
Lembrei daquele diálogo do andróide em Blade Runner "Todos esses momentos se perderão no tempo, como lágrimas na chuva". Afinal, essa é a sina de nossas memórias afetivas, talvez não tenham sido tão afetivas para os demais que compartilharam.
Não quero que entenda este texto como uma lamentação, apenas como uma reflexão: Somos eternos enquanto pensarmos, somos infinitos em nossa finitude e somos invencíveis em nossas vulnerabilidades.
E uma dica: Não fique encarando pessoas que não te conhecem no trem. Sério, não faça isso.