Bem, não estavam lá, mas achei algo muito melhor: meus álbuns de fotos de quando era pequeno.
Em cerca de metade das fotos que tinha até uns dez anos de idade eu fingia atirar ou bater em alguém. E em muitas delas estava vestido a caráter, pois meu avô possuía roupas velhas do exército. Cresci olhando Rambo e Braddock na TV, obviamente eu passava a maior parte do tempo imaginando que aniquilava os “inimigos da América” com minha faca de caça e uma BFG (Big Fucking Gun).
Outras fotos mostravam que, apesar de eu ter sido relativamente solitário, possuía muitos amigos (bons amigos, digo com orgulho). Aquele moleque magricela e briguento que eu era sempre tinha um sorriso no rosto dentro das fotos, fosse no parque com os pais, fosse na escola com os colegas, fosse no pátio fingindo que estava em uma guerra mortal ou nas festas de aniversário (onde eu sempre fazia careta nas fotos).
O maior impacto causado por esse momento nostálgico não foi lembrar os “bons tempos” e sim perceber que, apesar de meus esforços pra permanecer igual, eu mudei. Minhas qualidades/defeitos e gostos pessoais permanecem, mas o resto mudou.
Lembro-me da minha infância, das coisas que eu queria e imaginava do mundo, a inocência e os conceitos ideológicos que eu tencionava manter firmes para toda a vida. Mas o mundo nos obriga a mudar, necessitamos adaptação para não ficarmos loucos e matarmos a criança interior. Por mais que se esforce, o pensamento muda diante da experiência do convívio em sociedade. Queria que aquela maneira de pensar e de ver o mundo voltasse, mas no máximo conseguiria fingir que voltaram, e isso não seria justo com o que sou atualmente.
Entretanto, considero muito do presente como uma evolução natural daquele menino maluco. Não há motivos pra discorrer se melhorei ou piorei ao virar adulto, apenas que evoluí. E essa evolução satisfaz meu ego, apesar de não concordar totalmente com o que o “pequeno eu” gostaria que fosse.
Infelizmente não consigo mais imaginar que sou o Rambo em um mundo divertido e cheio de inimigos pra matar. É uma pena, mas é a realidade.
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