Era o mesmo de sempre, a família comemorando, todos brindando, entrega de presentes e aquelas mesmas piadas de peru, pavê e etc. Apesar de ser uma confraternização, não aguentava mais, pegou e saiu da casa perto da meia noite. Precisava respirar o ar noturno, ficar um pouco sozinho.
As ruas estava desertas, claro, pois todos estavam em suas casas comemorando a noite de natal. Feriadinho sem importância.
Andando a esmo, refletindo sobre a vida, o universo e tudo mais, deparou-se com a rodovia estadual logo a frente. Havia uma passarela para fazer a travessia para o outro lado, e lá foi o rapaz, subindo devagar, contando os passos (um velho hábito da infância), parou exatamente na metade da passarela. Inclinou-se no parapeito e ficou olhando pra baixo. Apesar de ser perto da meia noite, havia uma grande quantidade de carros trafegando.
O que ele fazia ali parado? Nada além de ficar olhando. A mente estava completamente vazia, frente os milhares de pensamentos que transitavam alguns minutos atrás. Como é curiosa a mente humana, não?
Veio apenas uma coisa na cabeça: uma visão dele pulando dali, rumo ao solo. Veio seguido de uma única pergunta: E por quê não? E foi se inclinando mais e mais, ficando perigosamente na beirada.
"Bonita a vista, não acha?" - Veio essa voz logo ao lado dele.
Havia um senhor de barba e uma jaqueta de motoqueiro ali parado a poucos metros. Como ele não viu antes?
"Sim, bonita e impactante, eu diria." - Foi a resposta.
Aquele senhor exaltava um ar de paz e harmonia. Começou a puxar assunto. Falou do calor da noite, dos fogos de artifício que logo apareceriam, dos carros passando logo abaixo e também de como ele odiava essas reuniões de família.
O rapaz descontraiu, era uma conversa muito incentivadora. Ele ainda estava no parapeito, mas apenas se recostando pra manter o papo. Falava de muita coisa, até da vida, do universo e tudo mais.
Que senhor simpático, ouvia e dava conselhos pro jovem. Alguns que até ajudaram a superar os pensamentos da ex que o abandonara poucos meses antes. Rá, sempre é problema com a ex, não?
De repente os fogos de artifício iniciaram. Um show de fogos, na verdade. Lindo de se ver do ponto que estavam. O rapaz agradeceu muito o senhor e voltou pra casa, afinal, tinha que dar uns abraços e desejar feliz natal, faz parte do cronograma familiar.
Por muito tempo depois disso, nenhum pensamento sobre pular de pontes veio a mente dele, tampouco desesperos emocionais por causa de ex. Apenas pensava que se aquele cara era o Papai Noel, que pelo menos tinha uma jaqueta estilosa. Será que o trenó era uma Harley Davidson?
E assim seguiu a vida.
...
P.S: "A vida, o universo e tudo mais" é o terceiro livro da trilogia de cinco partes do Guia do Mochileiro das Galáxias. Recomendo, pois há um nível filosófico altíssimo entre as piadas.
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