Sabe, as vezes convivemos com as pessoas por anos e mesmo assim permanecemos sem saber nada delas. Atrás dos sorrisos e das palavras ocultam-se pensamentos que nunca são revelados. Meu pai era uma dessas pessoas.
Hoje, no momento que escrevo este texto, faz sete dias que meu pai se foi. Engraçado perceber que, nos 25 anos que o tenho como meu pai, não sei dizer quem ele era. Não falo isso por pouca convivência, pois apesar de não morarmos juntos ele sempre se fez presente, sempre foi bom, amável, nunca me deixou na mão, sempre querido e altruísta.
Mas meu pai sempre foi um mistério, não só pra mim, mas para todos. Ninguém sabe as músicas que ele gosta, o que ele sente, os lugares que gosta de ir, o que pensa de cada um, o que fazia no tempo livre. Ele NUNCA se abriu pra ninguém. Ninguém mesmo, é sério. Ele sempre foi feliz, sempre rindo, festejando, contornando os problemas da vida, ajudando a todos na família, batalhando para manter a saúde e a estabilidade financeira, meu pai era uma pessoa incrível.
Então ele tirou a própria vida. Simples, direto, sem sequer um bilhete ou qualquer indício que demonstrasse tal intenção. Não sei o que dizer a respeito. Foi a escolha dele e o mínimo que posso fazer é respeitar isso.
Foi um choque. Não vou entrar em detalhes, não é necessário revelar a maneira terrível que esse dia se desenvolveu. Mas eu, como o filho que mais se conteve, tomei a frente de tudo junto ao meu irmão. Nunca estivemos em tal posição, de ter que tomar as rédeas da situação.
Sabe, eu vou sentir saudades dele. Muitas saudades.
Ele nunca disse que me amava, era o jeito dele, mas eu me sentia tão bem quando estávamos juntos. Tomando aquela cerveja barata, conversando qualquer assunto que fosse, ouvindo as palavras de incentivo que ele tinha, pois apesar de não dizer claramente, ele demonstrava orgulho com minhas conquistas na vida.
Apesar dos mistérios, eu tenho muito a ver com ele. Temos gostos parecidos, atitudes semelhantes (que minha mãe vive dizendo "ah, igual teu pai") entre outras coisas. Com os recentes fatos percebi que, além disso, temos outra coisa em comum que falei antes e talvez seja o elo mais forte: as pessoas não sabem quem realmente somos.
Eu não chorei no dia. Alguns me viram como insensível, mas eu simplesmente não conseguia, e essa é a verdade. Minha tristeza e meu luto ficaram abafados dentro do peito, como um grito silencioso.
Diferentemente dele, acho que nunca cederei ao que ele fez. Mas no fim, mesmo sem saber quem ele realmente era, vejo o quão semelhantes somos. E sim, fico feliz por isso. Quero ser uma pessoa boa e admirada por tantos como ele foi. Uma pessoa querida e especial, que ajuda ao próximo sem exigir nada em troca.
Adeus, meu querido pai. Estará sempre presente em meu coração.
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