Uma vez, não me recordo o contexto a qual foi dito, mas um colega disse a frase "cada um sabe as pedras que carrega". A situação passou em branco, a frase ficou na minha mente até hoje.
Ao longo da vida, vamos juntando pedras, algumas pequenas, algumas grandes, e elas vão se acumulando em nossa bagagem. Feliz são os que carregam pedras pequenas e leves, tristes aqueles que possuem pedregulhos enormes, as vezes são rochas formidáveis dignas de confrontos de StrongMan. Pior ainda quando estas rochas são colhidas na juventude, e fazem peso durante toda a jornada da vida.
Muitos adoram julgar os outros, sem saber as pedras que carregam. Minha avó, por exemplo, tem pedras pesadíssimas, a décadas. Não vou falar a respeito, seria indelicado expor publicamente o que se passa na vida privada dela. Uma vez, ela teve uma crise, estava sem tomar seus remédios para acalmar, após mais uma dessas pedras machucá-la gravemente. Ela chorou, pos as mãos no rosto e falou "Será que eu sou uma pessoa assim tão ruim? Por quê eu tenho que passar por isso?". Eu não sei vozinha, não sei mesmo. Só me restou dar um abraço naquele momento.
Apesar desse fardo, minha avó é uma pessoa formidável. Sem educação básica, deu estudo a todas as filhas. Sem conhecimentos cultos, fomentou que filhos e netos estudassem, trabalhassem e fossem pessoas decentes. Sem influência na sociedade, projetou sua influência em todos nós. Mesmo com pedras pesadíssimas, ela foi morro acima por décadas, sem esmorecer.
Eu carrego minhas pedras também. Infelizmente algumas muito pesadas. Eu também, por vezes, me olho no espelho e faço as mesmas perguntas que ela fez aquele dia: O que faço de errado para ter isso? Sou assim uma pessoa tão ruim?
Como algumas dessas pedras pesam, como doem, estão ali diariamente machucando minhas costas. Mas quando estou pensando em desistir, o esforço de minha avó aparece na mente. Ela tem pedras maiores e carrega desde antes de meu nascimento. Ela disse uma vez que fica feliz em ter um neto tão forte, querido e que ajuda quando ela precisa. Se uma pessoa com esse fardo dela consegue sorrir e incentivar, eu não vou ceder para nenhuma pedra, não importa o peso.
Eu falei este relato para minha psicóloga a uns dias. Não sei se a terapia está funcionando, eu só vou indo e fico falando, mas não vem ao caso. O que vem ao caso foi a resposta certeira da doutora: "Com que frequência, ao invés destas aí, as perguntas que faz a si mesmo são "o que estou fazendo certo? No que estou sendo bom como pessoa?".
Eu não tenho resposta. Nem para as perguntas negativas, tampouco para as positivas. Mas isso carece de mais reflexão, por ora eu vou comer um pedaço de bolo que minha avó trouxe antes. Bolo de milho. Eu nem gosto muito, já disse pra ela várias vezes que não é meu preferido (o bolo de chocolate dela que é meu favorito) mas ela esquece e faz mais o de milho. Não importa, igual eu não reclamo, agradeço e como com muito bom gosto. Não tem necessidade um bolo de milho ser uma pedra nas costas, é só um bolo e igual parece muito gostoso.
Obrigado pela sua leitura, e que suas pedras não sejam muito pesadas.