Agora que chegou aqui não tem mais volta, meu amigo.

Então leia e aproveite o que minha loucura criatividade tem para oferecer.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Juventude esquecida

Precisava de um par de sapatos e não achava os malditos. Pus-me a procurar pelo quarto todo, mas nada de aparecerem. De súbito, lembrei que deveriam estar na despensa, em meio a tralhas e objetos em excesso que teimamos em não botar fora.

Bem, não estavam lá, mas achei algo muito melhor: meus álbuns de fotos de quando era pequeno.

Em cerca de metade das fotos que tinha até uns dez anos de idade eu fingia atirar ou bater em alguém. E em muitas delas estava vestido a caráter, pois meu avô possuía roupas velhas do exército. Cresci olhando Rambo e Braddock na TV, obviamente eu passava a maior parte do tempo imaginando que aniquilava os “inimigos da América” com minha faca de caça e uma BFG (Big Fucking Gun).

Outras fotos mostravam que, apesar de eu ter sido relativamente solitário, possuía muitos amigos (bons amigos, digo com orgulho). Aquele moleque magricela e briguento que eu era sempre tinha um sorriso no rosto dentro das fotos, fosse no parque com os pais, fosse na escola com os colegas, fosse no pátio fingindo que estava em uma guerra mortal ou nas festas de aniversário (onde eu sempre fazia careta nas fotos).

O maior impacto causado por esse momento nostálgico não foi lembrar os “bons tempos” e sim perceber que, apesar de meus esforços pra permanecer igual, eu mudei. Minhas qualidades/defeitos e gostos pessoais permanecem, mas o resto mudou.

Lembro-me da minha infância, das coisas que eu queria e imaginava do mundo, a inocência e os conceitos ideológicos que eu tencionava manter firmes para toda a vida. Mas o mundo nos obriga a mudar, necessitamos adaptação para não ficarmos loucos e matarmos a criança interior. Por mais que se esforce, o pensamento muda diante da experiência do convívio em sociedade. Queria que aquela maneira de pensar e de ver o mundo voltasse, mas no máximo conseguiria fingir que voltaram, e isso não seria justo com o que sou atualmente.

Entretanto, considero muito do presente como uma evolução natural daquele menino maluco. Não há motivos pra discorrer se melhorei ou piorei ao virar adulto, apenas que evoluí. E essa evolução satisfaz meu ego, apesar de não concordar totalmente com o que o “pequeno eu” gostaria que fosse.

Infelizmente não consigo mais imaginar que sou o Rambo em um mundo divertido e cheio de inimigos pra matar. É uma pena, mas é a realidade.

sábado, 11 de junho de 2011

A flor das ilusões

Voltava pra casa, corpo presente mas pensamento longe. O que eu pensava não vem ao caso, mas enquanto andava na rua do centro, indo em direção ao meu ônibus, uma doce menininha parou na minha frente.

Ela: Quer flores moço?
Eu: Não, obrigado.
Ela: Pega uma, por favor. Dê pra sua namorada no Dia dos Namorados. Uma flor vale mais que qualquer presente.

Não teve outra, ela me convenceu. Peguei uma rosa vermelha e levei pra casa. Não, eu não tenho namorada, nunca tive, e vai saber quando finalmente vou ter uma, mas algo me fez comprar aquela rosa.

Cheguei em casa, milagrosamente estava vazia. Coloquei a rosa na mesa, sentei no sofá pra ficar apenas pensando. E nada mais.

Uma vida difícil? Nem tanto. Muitos problemas? Ultimamente sim, mas vou superar. Sente-se sozinho? Sim. Realmente? Não sei ao certo.

Domingo é Dia dos Namorados. Mas é um dia como qualquer outro e, como tal, não faz diferença alguma pra nossas vidas. Baseamos tudo em datas comemorativas através de motivos superficiais, para impor necessidades, forjar movimentações e criar ilusões (boas ou ruins). Tenha você um relacionamento sério e sólido ou seja um Zé Solitário qualquer, repense seus conceitos e modos de pensar.

Não é no Dia dos Namorados que deve glorificar a pessoa que ama, isso deve ser feito em qualquer dia e a qualquer momento. E não é por estar sozinho que deve se sentir menosprezado pelo mundo. Saiba dar valor a si mesmo e reconhecer que uma pessoa sozinha pode ir muito longe com suas próprias pernas.

Eu queria alguém que me desse o devido valor nessa data, não nego. Alguém que dissesse que faço diferença na vida dela, que olhasse em meus olhos com amor ao dizer Eu Te amo. Mas não tenho, ao menos não no momento que escrevo esse texto.

Olhei para aquela rosa em cima da mesa. Parecia nova antes, mas estava despedaçada agora.

Não faz diferença. Mesmo não tendo ninguém, meu coração permanece intacto.