Agora que chegou aqui não tem mais volta, meu amigo.

Então leia e aproveite o que minha loucura criatividade tem para oferecer.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

O garoto

Naquele dia em especial eu havia chegado mais cedo do trabalho, e me encontrei com a casa vazia. Sentei no sofá e liguei a tv, onde passava o filme "Duas Vidas" do Bruce Willis, aquele onde o cara encontra a versão dele criança. Fiquei assistindo por uns minutos, até que olhei pro lado e tomei um baita susto. Encontrei a mim mesmo, com mais ou menos oito anos de idade, sentado no canto oposto do sofá.

Eu: Ei, que tá fazendo aqui?
Eu menor: Tô esperando começar o filme do Stallone. Acho que tá quase na hora.
Eu (meio tonto com essa): Não passa mais filme do Stallone de tarde guri, as emissoras vetam tudo que tem violência.
Eu menor: Ahhh não, sempre é assim, nunca consigo o que quero...
Eu: Qualé cara, tu tem uma vida boa. A mãe dá tudo que tu quer, todo mundo é carinhoso contigo, sempre progride em tudo que faz e é cheio de brinquedos.
Eu menor: Mas nem posso sair pra brincar na rua. Que saco.
Eu: Mas vai poder cara, vai poder muita coisa.
Eu menor: Tem certeza?
Eu: Absoluta.
Eu menor: Vou poder pegar o carro e sair por aí bebendo, brigando e xingando todo mundo?
Eu: Tá, não vai poder fazer tudo. Aliás, que idade tu tá agora?
Eu menor: Oito.
Eu: Então aproveita pra bater nos outros enquanto pode, porque a partir do próximo ano vai ter que parar com isso, vai encher de gangues na escola.
Eu menor: Saco. E como é ser adulto?
Eu: Não muda muito do que tu é agora, com a diferença que eu já aprendi várias lições que tu ainda tá por ver.
Eu menor: Me diz tudo que eu preciso saber, daí já fico preparado.
Eu: Não. Nunca espere nada dos outros, acabará descobrindo por ti mesmo.
Eu menor: Tá bom, tá bom.
Eu: Mas te dou umas dicas. Vai anotando aí.
Eu menor: Oba!!
Eu: Sem mentiras e trapaças, independente do que os outros façam. Pagode é uma merda, ouça AC/DC e Judas Priest. O que tu tanto olha quando aquelas gurias passam é mais normal do que tu imagina, vai descobrir que não é tão estranho assim. E por último, mas não menos importante, brinque com o seu cachorro o mais que pode, faça dele um bichinho muito feliz.
Eu menor: Tá bom, não entendi muito bem, mas vou lembrar disso tudo.
Eu: Acho que não vai lembrar, te conheço muito bem hehe.
Eu menor: Posso te fazer uma última pergunta?
Eu: Faça.
Eu menor: Quantas tu já namorou? 15? 20?
Eu: Olha, nem tantas que tu possa te glorificar, nem tão poucas que tu possa te desesperar.
Eu menor: Que baboseira hein, acha que é fácil me enrolar, é?
Eu: Sim, vai descobrir que é muito fácil, já disse que te conheço muito bem.

Pra escapar de mais perguntas como aquela troquei de canal. Não é que tava mesmo dando o filme do Stallone no meio da tarde? Bem o Stallobe Cobra, e na parte do assalto no supermercado, minha (nossa) preferida.

"Você é uma doença. Eu sou a cura." - Dissemos ao mesmo tempo, para meu espanto.

"É, alguns hábitos e gostos não mudam, ainda bem", pensei. Mas quando virei a cabeça para comentar isso com o meu eu pequeno, o canto do sofá estava vazio. A criança voltara para o lugar de onde surgira, e de onde espero que nunca desapareça. Voltara para dentro da minha mente.