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domingo, 2 de agosto de 2009

O táxi

Em alguns momentos da vida algo dá errado e nos desanima. Mas naquelas últimas semanas tudo, tudo mesmo deu errado. Uma sequência absurda de desgraças me assolou, tornando meus dias sombrios e decadentes.
Meu coração foi partido de maneira cruel por aquela que eu amava. Fui demitido. Os amigos que eu tanto prezava nem se importavam se eu estava vivo ou não. Meu cachorro, e melhor amigo, morreu depois de tantos anos ao meu lado. E entrei nas férias da faculdade, já que era final de ano, e isso gerou uma solidão terrível por todos os dias que se seguiam.
Faltava uma semana para o natal, e no sábado resolvi sair e tentar botar alguma animação em minha vida, se é que isso era possível. Fui em um bar de rock'n'roll localizado em um bairro um tanto indigesto pra ouvir um som de qualidade.
Bem, o show que eu queria foi cancelado. Só me restou meter a cabeça dentro do copo de cerveja. Saí de lá por volta das três da manhã, podre de bêbado, sem nem ao menos ter conversado com alguém(à exceção do barman). A noite estava fria, escura e tenebrosa, não havia uma alma sequer andando pelas ruas. Lembro de, mesmo bêbado, olhar ao meu redor todo aquele vazio e lamentar por ter uma vida desgraçada.
Andei um pouco pelas ruas, pois não havia ônibus até as seis, e acabei sentando no cordão de uma rua paralela que eu nunca tinha estado antes. É incrível como a bebida traz todos os sentimentos e lembranças ruins à tona ao mesmo tempo. Nossa, como eu me sentia mal naquele momento.
Olhei pro lado, e me deparei com um táxi a cinco metros de onde eu estava sentado. Estranho, pois eu nem tinha percebido. Aliás, ali nem era ponto. Bem, juntei minhas forças e fui andando em direção a ele, era melhor voltar pra casa de uma vez.
Pra onde garoto? - Falou aquele motorista de aparência sisuda.
Dei minhas indicações e ele seguiu o rumo.
O taxista tinha um jeito sério, mas ao mesmo tempo agradável. Ele se demonstrou bem falante até (que nem todo taxista), e contou algumas histórias, falou do novo calçamento da rua principal, e da vizinha gostosa dele. Mas viu que eu estava desanimado e pouco dizia. "Tu não tá legal, desabafa muleque." - Falou.
Não sei porquê, mas comecei a contar tudo que me ocorreu. E com a sinceridade e sentimentalismo aumentados devido a toda bebida ingerida. Não duvido que tenham rolado algumas lágrimas de meus olhos, algo risível.
Mas ele não riu em nenhum momento. Apenas escutou toda minha lamentável narração.
Enfim, chegamos em frente à minha casa. Minha mãe percebeu o movimento em frente ao portão e apareceu na porta da frente. Paguei e, antes de descer, ele apenas disse que a vida é assim mesmo, mas sempre melhora. Eu, já no fundo do poço, apenas retruquei dizendo que se a vida é assim, preferia nem ter ela.
Ao ouvir isso, ele botou a mão em meu ombro, olhou na minha cara e disse, com um ar sobrenatural:
- Nunca mais repita isso. Tudo que eu vejo na minha frente é um rapaz capaz de superar qualquer problema, basta apenas querer. E tudo que agora te encomoda, pode ser contornado. Apenas olhe pra frente, vá em busca de resultados, explore seu potencial, e nunca desista de realizar seus sonhos.
Eu achei aquilo sinistro demais. Dei tchau pra ele e tratei de entrar portão adentro. Minha mãe olhava com uma cara estranha e perguntou se eu estava bem. Disse que sim, mas nem quis saber o porquê dela perguntar isso. Antes de dormir, fiquei pensando no que ele falou. E, acima de tudo, percebi que estava sóbrio.
Nos dias que se seguiram, aquelas palavras não saíam da minha cabeça, e já me incomodavam mais do que os problemas antes relatados. Não tinha nada a perder mesmo, então segui os conselhos, e tomei atitudes para sair desse momento difícil.
Procurei emprego, contatei meus conhecidos, corri atrás de todas as pontas soltas para remendá-las. Dois meses depois eu estava trabalhando na área que eu gosto, me divertindo com os amigos, vendo bons shows de heavy metal, adquiri um novo animal de estimação para alegrar meus dias, e conheci algumas garotas que mostraram que quem vive de passado é museu.
É estranho como meia dúzia de palavras possam mudar toda sua perspectiva da vida e provocar alterações tão radicais.
Com toda essa mudança positiva no rumo da minha vida, resolvi procurar aquele taxista e agradecer pela iluminação no momento mais sombrio que passei. Mas, estranhamente ,não achei a rua, e as pessoas a quem eu perguntei nem faziam idéia do local que eu queria chegar.
Bem, voltei pra casa. Não contei pra minha mãe a história daquela noite, mas falei que não achei o ponto do taxista que me trouxe aquele dia. Ela me olhou com uma cara séria, como se eu tivesse dito uma loucura.
- Não havia táxi nenhum. Eu apenas saí de dentro de casa porque te ouvi no portão falando sozinho. Eu te observei por uns cinco minutos, então tu entrou.
Isso veio como uma pancada no cérebro. Quem era o taxista? Ele existia, por acaso? Como eu vim parar em casa? Até que ponto da minha noite aconteceu realmente?
Nunca tive respostas pra essas perguntas. Só sei que não voltei a andar de táxi.

Um comentário:

Tiago disse...

Diria que se trata de um caso clássico de abdução.